Inteligência Cognitiva
O conteúdo do curso foi muito bom para me atualizar sobre os mitos e falácias ainda predominantes na seara da Inteligência Cognitiva e sobre o sobre o ser humano contemporâneo como, por exemplo, o lado esquerdo do cérebro ser considerado a morada da lógica e da racionalidade e o direito ser descrito como a fonte da intuição e da criatividade.
Gostei bastante também das provocações para reflexão, como a história do acidente do filho e a mãe cirurgiã. Acho que foi bem ilustrativo em demonstrar como nosso cérebro pode ser viesado pelo contexto. Até encaminhei para um grupo de whatsapp para testar e foi bem interessante ver a reação das pessoas. O resultado do exercício foi similar ao que vimos dos colegas da sala.
As aulas expositivas me ajudaram a compreender as habilidades de pensamento e foi um mergulho nos meus próprios processos cognitivos. Realmente, pude perceber que como as pessoas resolvem os problemas depende em boa parte em como elas entendem o problema.
A aula sobre tomada de decisões e racionalização foi praticamente terapêutica para mim e consegui identificar alguns processos que permeiam minhas decisões no dia a dia, muitas vezes, causando sofrimento. O conhecimento sobre as heurísticas e vieses proporcionou uma tomada de consciência e me fez mudar alguns dos meus padrões imediatamente após a aula expositiva.
Um exemplo que posso citar é que me peguei sendo um exemplo vivo da falácia do custo afundado. Em meu negócio próprio, me vi dando murro em ponta de faca me apegando aos custos que já havia incutido em um produto que acreditava ser de grande valor, mas que não estava tendo a resposta esperada do mercado. Investimos muito ao longo dos últimos 2 anos neste produto e já havia entrado em conflito com minha sócias algumas vezes por conta da direção deste produto e só agora me dei conta de que estava apegada aos investimentos já feitos e finalmente cedi ao que ela vinha falando há tempos. Agora, satisfeita, resolvemos estancar o sangramento e matar o produto de vez. Aliás, neste próximo mês resolvemos encerrar as atividades da empresa e estas novas percepções acerca dos meus processos decisórios me ajudaram muito a enxergar as minhas motivações para as estratégias que vinha insistindo em implementar.
V. locação de recursos
Outra coisa que percebi é que eu tendo a ser maximizadora, ou seja, eu costumo exaustivamente buscar o que é melhor sempre. Por exemplo, se estou planejando uma viagem, e busco uma hospedagem no Airbnb, eu vou olhar absolutamente todas as propriedades e aqueles que gostei mais, eu leio todos os testemunhos para ter a certeza de que fiz a melhor escolha possível. Só que entendo agora que gasto tempo demais e fico com uma carga mental imensa por conta desse comportamento. Agora vou tentar propor um limite para mim, por exemplo, estabelecendo o tempo máximo que estou disposta a dedicar em uma escolha deste tipo e ficar com a consciência de que fiz o melhor que pude dadas as opções que me apresentaram neste intervalo de tempo.
Acredito que as aulas me ajudaram muito a moldar um novo pensamento crítico, principalmente no que tange à estruturação da representação do problema. Acho que fez muito sentido como isso impacta como lidamos com eles. Vou manter em mente daqui para frente.
Me recordo que na aula sobre resolução de problemas, a cuidadora da minha filha que estava ouvindo a aula aqui em casa prestou atenção na parte sobre "incubação", ou seja, colocar um problema de lado por um tempo sem pensar conscientemente nele. Nos dias subsequentes, ela continuou me lembrando pontualmente sobre "aquilo que seu professor falou" me aconselhando a "dormir antes de tomar uma decisão", sempre que ela percebeu que estava aflita com alguma questão que precisava resolver.
A compreensão sobre as múltiplas formas de inteligência me fez expandir um pouco mais minha visão de mundo ao lidar com pessoas e também a amenizar preconceitos. Comecei a olhar para a minha filha de 2 anos de uma maneira distinta e vou tentar identificar as inteligências que ela possui ao longo do desenvolvimento dela. Como minha educação foi muito rígida e tradicional, as inteligências mais valorizadas eram ligadas à lógica-matemática e linguística e acabava minando minha auto-estima de certa forma por ter que me encaixar, sendo que hoje reconheço que desde pequena possuía naturalmente outras inteligências bem desenvolvidas, como a espacial, natural e existencial.
Me fez refletir bastante sobre o futuro das metodologias de instituições de educação e da padronização de testes. A boa notícia é que tenho visto muitas escolas aplicando procedimentos educacionais que estimulam todas as áreas potenciais de seus alunos, visando desenvolver os aspectos cognitivos e também socioemocionais. Acredito que as gerações futuras terão mais chances de desenvolver seu potencial e talento ao máximo, com esse novo olhar sobre os seres humanos e a partir da compreensão da existência de Inteligências Múltiplas.
A importância da multidisciplinariedade da análise é também valorizada nas culturas organizacionais que adotam o método ágil, pois as equipes multidisciplinares acabam trazendo pontos de vista diferentes com os diversos tipos de inteligência conversando sobre um mesmo problema. Acredito neste modelo de gestão e acho que favorece a impulsionar a inovação na cultura e no mercado.
Por fim, aprendi muito com os trabalhos apresentados pelos meus colegas de sala na última aula. Os temas que mais impactaram foram sobre o "óbvio" e sobre o uso de filtro nas redes sociais.
Sobre a questão do óbvio, fiz uma analogia com O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder, que li quando era adolescente. Lembro que um trecho me marcou bastante. Segundo o autor, o mundo seria como um grande coelho. Nascemos, todos, nas pontas dos finos pelos; nós nos admiramos com a paisagem, nos investimos de curiosidade para a vida. Com o passar dos anos, vamos escorregando cada vez mais para perto da pele, onde a paisagem é sempre igual.
Daqui do couro acreditamos que as crianças estão vendo o que vemos, mas esquecemos que, de onde estão, no começo da vida, na pontinhas dos pelos do coelho, a vista é bem diferente. Enquanto já não temos qualquer curiosidade pelas potencialidades do nosso corpo, as crianças vibram a cada descoberta, exploram com avidez essa casa que habitarão até o fim da vida. Enquanto uma pedra, para nós, é só uma pedra, para a criança é algo que precisa ser explorado, visto, cheirado, analisado. Nada é "óbvio" ainda para ela. Com os olhos de pessoas recém-chegadas ao mundo as crianças aprendem em uma velocidade que jamais se repetirá na vida. Partindo das nossas vivências e experiências, concluímos o que é fácil ou óbvio, o que já deveriam ou não saber.
Lembro de quando minha filha estava aprendendo a andar. Algo que fazemos com tanta segurança e certeza, sem pensar, tão automaticamente, demanda muito esforço deles. Cada passada, cada queda, cada treino. Os pezinhos inseguros ainda, o caminhar cambaleante. No couro do coelho, andar é algo simples e corriqueiro, mas ali, na ponta do pelo, andar é algo mágico.
Pensar no que é óbvio para nós parte muito do nosso ponto de vista e das nossas vivências anteriores. Por isso, tomei mais consciência após as reflexões ao longo da última semana de que exercitar a empatia e se colocar no lugar do outro, da onde aquela pessoa vem, é essencial para estabelecer uma base para o começo de uma conversa.